Olhando para o garoto de oito anos parado no meio da sala cercado de vários livros,  Antônio não pode deixar de franzir a sobrancelha com preocupação.  Ele havia adotado o garoto para a usar em seus golpes,  mas sabia que quanto mais instruído e inteligente fosse o menino,  menos ele estaria disposto a obedecê-lo.

— O que você está fazendo? —   Puxando o livro da mão do garoto, o mais velho logo percebeu que o livro se tratava dos conceitos básicos de códigos e segurança de rede, que mostravam como evitar que alguém invadisse uma rede ou outra.

— Aprendendo a hackear.  —  Esticando a mão para pegar de volta seu livro, o jovem logo  voltou a ler sem se importar com o olhar do mais velho enquanto folheava os livros antes de adicionar sem sequer desviar os olhos do livro.  — Se conseguimos hackear e desligar as câmeras,  será mais fácil para a gente roubar lugares maiores.

 Ouvindo aquelas palavras,  Antônio não pode deixar de sentir sua mente explodindo naquele momento.    Antônio nunca havia pensado em hackear as câmeras e apesar de saber que aprender tal coisa seria útil, o homem sabia bem o suficiente o quão ruim era com as tecnologias modernas.

— Boa,  vou arranjar mais alguns livros para você.  — Dando tapinhas animados na cabeça do mais novo,  Antônio havia decidido que iria investir na educação dele, principalmente no que se tratava de habilidades que seriam úteis mais tarde.



Três meses haviam se passado desde que o garoto havia começado a estudar por conta própria e durante esse tempo  Antônio havia descoberto que o jovem que havia decidido adotar era extremamente inteligente e havia aprendido a teoria sobre segurança da informação com relativa facilidade.   Mas enquanto na teoria tudo era lindo,  o mais velho sabia que o garoto precisava começar a praticar na vida real suas habilidades.

— Aqui garoto,  feliz aniversário adiantado. — Entregando o notebook que havia se arriscado para roubar há pouco tempo atrás,  o mais velho não se importou com a expressão de felicidade do garoto enquanto agarrava o topo da cabeça do menino com uma mão e fazia o jovem virar seu olhar para a lojinha do lado, cercada por algumas câmeras.

— Hora de treinar suas habilidades na vida real.  Quero ver essas câmeras hackeadas até o fim de semana, ou nada de jantar para você meu garoto.

Assentindo seriamente para o mais velho, o jovem logo correu em direção a seu quarto antes de abrir o notebook de última geração com animação.   Configurando o notebook depois de digitar rapidamente,  o garoto fechou os olhos enquanto tentava se lembrar do conhecimento que havia absorvido dos livros nos últimos dias.

— Ok, primeiro preciso ir até lá e pegar informações.

Respirando fundo,  o jovem que mal havia chegado aos sete anos respirou fundo enquanto colocava a melhor expressão de inocente que podia em seu rosto.   Antônio havia lhe ensinado a aplicar golpes e enganar pessoas desde que o garoto havia aprendido a falar e o garoto tinha certeza que o mais velho o usava para golpes muito antes disso, afinal o que parecia mais inocente e lamentável do que um bêbe?

 Balançando a cabeça para se livrar dos pensamentos em sua cabeça,  pegou uns trocados que tinha escondido debaixo da cama e saiu da casa em que dividia com Antônio.

—O que está olhando garoto? — Chegando perto da loja, o menino viu o mesmo olhar desconfiado que recebia de todos os homens mais velhos quando entrava em alguma loja ou mercado e não podia deixar de se perguntar se realmente parecia tão suspeito assim.

— Só quero umas balas, senhor, aqui o dinheiro.  — Parando de olhar ao redor e respondendo de forma o mais educada possível, entregava o dinheiro que tinha ao homem antes que ele desse outro olhar frio ao garoto e em seguida lhe entregasse as balas.

  Saindo um tanto frustrado com o tratamento frio que havia recebido do mais velho, o garoto logo correu para casa enquanto adentrava novamente o quarto rapidamente.    Mesmo que o lojista houvesse o tratado com frieza e praticamente o expulsado de sua loja,  ele havia dado tempo o suficiente para que o menino  conseguisse ver os modelos das câmeras e isso era tudo que o mais novo precisava para sua missão.

—  Vamos lá…  —   Acessando o endereço IP que havia conseguido ao se conectar pelo wifi do lojista, o garoto sabia pelo modelo das câmeras que o lojista havia sido mão de vaga e invés de contratar um sistema de segurança, havia decidido instalar as câmeras por si mesmo e usar sua rede local para ter acesso a câmera e armazenar as imagens,  o que facilitava muito para qualquer um hackear elas.

— E estamos quase lá.  — Com a visão da tela que pedia o usuário e senha do lojista,  um sorriso um tanto convencido aparecia nos lábios do garoto enquanto pesquisava na internet qual era o usuário e senha padrões de fábrica daquele modelo de câmera.

Era engraçado como em um mundo de tecnologia avançada, poucas pessoas se preocupavam em excluir a conta de administrador que as empresas deixavam pré-instaladas em todos os equipamentos.

 Colocando o usuário e senha padrão que havia conseguido na rede, o garoto não pôde deixar de sorrir enquanto acessava as câmeras do local com relativa facilidade.  Felizmente,  Antônio não iria o deixar com fome naquela semana.

Objetivo:

Já havia se passado um ano desde que o garoto havia começado a aprender sobre as habilidades de um Hacker e durante esses doze meses Antônio viu o jovem crescendo cada vez mais e facilitando sua vida como nunca antes. Os roubos nunca haviam sido tão fáceis com o jovem desativando as câmeras das casas antes que eles invadissem.

Mas como todo bandido, Antônio não estava satisfeito somente com os roubos atuais, ele queria roubar casas maiores, melhores e de pessoas mais ricas e sabia que para poder fazer isso as habilidades do garoto tinham que se tornar ainda melhores.

— Hey garoto, feliz aniversário. Pegue.

Entrando na sala e vendo o jovem negro como sempre focado em seus livros e em seu notebook que havia ganho ano passado, o mais velho jogou o pacote em suas mãos sem cuidado no garoto enquanto se sentava em uma cadeira do quarto do rapaz.

—  Suas habilidades estão cada vez melhores, mas ainda não é o suficiente para a gente começar a lucrar.

Olhando para o menino de oito anos que abria o presente com os olhos brilhando, um sorriso brincava nos lábios de Antônio enquanto continuava com o seu discurso.

— A prova que te fiz fazer semana passada foi para um curso de segurança que terá duração de um mês.  Os professores ficaram animados em ensinar um prodígio como você, claro, o dinheiro extra que eu paguei também ajudou.

Se levantando de sua cadeira, Antônio andou até o jovem e deu dois tapinhas no ombro dele enquanto o menino lia a carta de admissão do curso.

—  Hora de melhorar suas habilidades.




Olhando ao seu redor e vendo um bando de jovens mais velhos e até adultos,  o jovem não pode deixar de franzir as sobrancelhas enquanto pensava que só estava chamando ainda mais atenção do que normalmente já fazia.  Mas pensando em como Antônio havia dito que precisava melhorar suas habilidades o mais rapidamente possível, simplesmente engoliu o desconforto que sentia e decidiu que iria dar o máximo de si durante esse um mês de treino.

— Sentem-se todos. — Logo um homem que devia ter por volta de quarenta anos e uma barriga que denunciava a sua falta de exercícios entrou na sala e deu um olhar frio a todos os alunos ali presentes,  parando por alguns segundos ao olhar para o jovem negro que era claramente o mais novo da turma antes de continuar.

— Durante todo o trajeto deste curso, vocês só irão aprender uma coisa: Contra hackear.  E para isso, primeiro vocês devem saber como os hackers invadem os sistemas de segurança de suas casas ou empresas.

Começando a aula sem se incomodar com as apresentações, o mais velho logo ia até o quadro negro e escrita na lousa:

1 - Endereço IP e usuário
2 - Interceptação de Sinal
3 - Roubo de dados.

Depois de escrever esses três tópicos na lousa, o homem novamente se virou para toda a turma antes de continuar.

— Essas são as três principais formas que um hacker consegue acessar as câmeras de um sistema de segurança. A primeira é usada em câmeras de modelos mais antigos e uso pessoal que podem ser compradas por qualquer um.

Com um livro em mãos e olhando com uma expressão séria para toda a turma, o mais velho continuava a sua explicação sobre os outros dois tópicos, explicando como a segunda forma de se  conseguir acesso às câmeras tanto do tipo para uso pessoal quanto para uso de empresas de segurança era o uso de um aparelho específico pra interceptar o sinal que Wi-Fi dessas câmeras e ter acesso às imagens delas.

 Enquanto isso, o último método era mais simples e ao mesmo tempo mais complicado: Conseguir os dados de acesso do sistema de segurança.

Depois de explicar as formas de usar cada um dos três métodos apresentados e como se proteger de cada um deles, o professor passou um conjunto de livros e materiais de referência para que todos os alunos estudassem durante a semana, podendo usar as aulas que teriam uma vez por dia para fazer perguntas ou praticar suas habilidades para hackear as câmeras e como combater os mesmos métodos.

Assim que voltou para o quarto que iria ser somente seu durante aquela semana com os livros em mãos, o jovem negro não pode deixar de achar que estava no paraíso.  Aprender sozinho com seus livros não se comparava a ter alguém com conhecimento o ensinando e desde que pudesse aprender tudo que o professor tinha para ensinar, ele estaria feliz em continuar participando daquelas aulas.




Já haviam se passado quatro dias desde a primeira aula e durante esse tempo o jovem havia mergulhado o máximo que podia em cada aula, sendo um dos alunos com mais perguntas e que mais praticava os métodos ensinados pelo professor.

Mesmo sendo extremamente jovem comparado aos rapazes de quinze anos e até mesmo aos homens de vinte e poucos anos que estavam na turma,  o professor havia obtido um gosto especial pelo garoto que sempre se esforçava e parecia se divertir em suas aulas, não se incomodando em responder às perguntas do garoto não importando o quão bobas fossem.

—  Como todos sabem, um mês é pouco tempo para aprender e durante esse curto período de ensino iremos cobrar de vocês o que algumas pessoas aprendem em meses em uma só semana. E esse é um desses momentos.


Colocando um notebook em cada uma das mesas enquanto falava, o professor logo voltava a sua mesa onde um conjunto de câmeras estavam apontadas para os alunos.

—  Cada uma dessas câmeras foi configurada por mim e podem ser invadidas com um dos três métodos que vocês aprenderam essa semana.  Aqueles que conseguirem invadir as câmeras  passarão na primeira etapa do teste. A segunda etapa e a chance de rendição daqueles que falharem na primeira etapa, é impedir que eu hackeie as câmeras.  Podem começar.

Respirando fundo enquanto abria o notebook, o jovem negro não pode deixar de pensar que agora era o momento de mostrar tudo que havia aprendido durante aquela semana.  Então dando uma última olhada para as câmeras, começou seu trabalho.

— Vamos lá — Murmurando consigo mesmo a primeira coisa que o garoto fazia era pesquisar o modelo das câmeras e encontrando o único modelo que  podia acessar por IP não perdeu tempo antes de conseguir hackear uma das câmeras, afinal já havia aprendido o primeiro método antes.

“Próximo”  Pensando consigo mesmo enquanto pegava o equipamento que havia sido distribuído junto com os notebooks, o jovem começava a sintonizar o aparelho em diferentes frequências seguindo um certo padrão.  Depois de uns vinte minutos mudando a frequência, ele finalmente havia conseguido as imagens da segunda câmera em seu computador.

— Só falta uma. — Respirando fundo para se acalmar, o jovem olhava para o professor e lembrava de suas palavras iniciais antes de pesquisar o nome do professor e obter suas  informações particulares em suas redes sociais.

Normalmente alguém daquela área não usaria aniversário, nome de cachorros e informações facilmente encontradas online como senha, mas considerando que era pra ser uma prova relativamente fácil e simples…

— Bingo! — Assim que conseguiu acessar a última câmera, o jovem precisou de tudo de si pra não comemorar em voz alta antes de levantar a mão para chamar a atenção do professor.

Finalmente havia terminado.

Objetivo: