A floresta do Instituto era densa demais para apenas uma floresta de mansão, era como se eles tivessem pegado uma floresta de um país tropical e teletransportado para o terreno do local, quase como se aquele ambiente tivesse vida própria e, considerando onde estava, Pierre não se surpreenderia caso tivesse. Enquanto caminhava com a irmã guiando-a floresta adentro o Beauffort só pensava em uma única coisa: ele precisava tirar a irmã daquele local o quanto antes, pois não sabia o que estava por vir e há quanto tempo ela se encontrava naquele lugar. Difícil mesmo seria fazê-la concordar com tudo aquilo, visto que ela não tinha recordações nenhuma de seu irmão gêmeo, ele conseguira constatar isso enquanto conversava trivialidades com ela no decorrer do caminho. Nenhum resquício, nada. Era como se a existência de Caillou tivesse sido apagada da mente dela e isso deixava o seu irmão gêmeo magoado, mas ao mesmo tempo se perguntando quem havia feito aquilo e porquê.

Pierre não parava de escutar os pensamentos de sua irmã sobre sexo e pegação. Seria engraçado se não fosse trágico. O anglo-francês parou quando ela sugeriu que eles já estavam distantes demais e, de fato, as luzes da mansão sequer podiam ser enxergues de onde eles estavam. Ali seria o local perfeito para que Pierre pudesse dizer a verdade à irmã. Afastando-a um pouco de si - já que ela estava aproximando-se provavelmente para beijá-lo novamente -, Pierre pigarreou e ajeitou suas vestes, olhando Desirée nos olhos, pensando na maneira correta de dizer tudo o que tinha para dizer sem assustá-la. — Des, eu não sei por qual motivo você não se lembra de mim, porém eu me lembro de você. Eu fiz parte da sua história e eu sou alguém muito próximo de você, ou ao menos um dia fui. — O garoto tentava conter as lágrimas e ser o mais sucinto possível, em sua cabeça eles estavam correndo perigo e não tinham muito tempo. — Eu sou seu irmão gêmeo não idêntico. Eu a procurei por bastante tempo e vim te tirar daqui. Eu não sei o que vocês fazem nessa mansão, mas creio eu que aqui não é um lugar seguro para você e para nenhuma dessas pessoas. — Após passar por tudo o que passou, Pierre aprendeu a não confiar tanto assim em instituições, por mais bem intencionadas que elas se pareçam. Graças a Genesis ele havia compreendido a real natureza da sua individualidade, porém ainda assim a organização havia feito muito mal ao jovem, e ele não queria que sua irmã passasse pelo mesmo, embora ele acredite que ela já tenha passado por algo similar, vide a perda de memória. — Sei que pode parecer confuso, mas você precisa confiar em mim. — Beauffort voltou a segurar a mão da irmã, já temendo a expressão facial que ela fazia, como se achasse que ele era um completo surtado ou algo do tipo. Ele fari de tudo para tirar a irmã dali, nem que tivesse que apagá-la para arrastá-la para fora daqueles portões altos de aço inoxidável.

A ideia de que Pierre poderia ser irmão gêmeo da garota não entrava de jeito nenhum na mente da Desirée e Pierre já estava começando a perder a paciência. A irmã sempre fora dessa forma, teimosa, e agora mais do que nunca ele precisava que ela deixasse sua teimosia e humor ácido de lado para encarar a verdade. Ele era seu irmão gêmeo, ele não tinha motivos para inventar aquilo, mesmo se tivesse problemas psicológicos seríssimos, ela não seria alvo dele à toa. Por sorte as memórias dele em relação a ela estavam intactas e ela poderia acessá-las facilmente caso quisesse. — Eu não estou inventando, Desirée! Se eu estivesse inventando, não teria como eu saber que você já foi Austin um dia. — Só a menção do antigo nome pareceu perturbar a garota. Desirée era uma menina trans e ela já fora irmão gêmeo de Caillou um dia e não irmã, mas esse é um assunto que embora Beauffort não quisesse reviver - pois ele também abandonara sua antiga identidade de certa forma - era necessário fazê-lo, uma vez que a irmã teimava em ver a verdade escancarada em sua frente. — Eu sou Caillou, seu irmão gêmeo. Você era Austin, virou Desirée e não teria como eu saber isso se não a conhecesse intimamente. — Pierra agarrou o pulso da garota com força e colocou a mão dela sobre sua cabeça violentamente. — Se eu estou mentindo é só você entrar na minha mente e ver tudo, vai! — Pierre estava berrando e até mesmo assustando sua irmã, mas não havia outra forma dela descobrir a verdade senão usando sua individualidade nele. E ele, copiando a individualidade dela também poderia descobrir o que havia acontecido na mente de sua gêmea para que ela apagasse sua existência.

Beauffort se via cada vez mais em opção. Sua irmã gêmea estava inclinada a não acreditar em nada do que ele dizia, mesmo tendo a oportunidade de vasculhar a mente dele com sua individualidade. Ela apenas olhava para ele com uma expressão de pesar enquanto acreditava piamente que aquelas memórias fossem implantadas. Pierre tinha vontade de chamá-la de burra e de vários outros xingamentos que não cabiam no momento, mas ao invés disso ele estava tentando pensar em uma outra forma de tirar Desirée dos terrenos da escola sem que ela fizesse muito alarde. Ele não confiava nas pessoas que estavam ali e em ninguém mais além da Yumi com quem ele escapou da Genesis. Ele precisava fazer sua irmã enxergar toda a verdade, mas para isso precisava tirá-la dali o quanto antes. — Tudo bem, eu vou com você. — Ele fingiu que a acompanharia e estendeu a mão para que ela pegasse. Assim que eles se tocaram, Pierre olhou no fundo dos olhos de sua irmã e então, copiando as habilidades mentais dela ele ordenou. — Me siga. — Ele estava tentando invadir a mente de Desirée para que ela obedecesse o seu comando. Uma vez fora dos portões do instituto, ele poderia levá-la até o local aonde ele se esconde e dar um jeito de tentar fazer a irmã voltar a si, talvez Yumi pudesse até mesmo ajudá-lo com isso. — Me siga! — Ele repetiu o comando à fim de fazer com que ela se rendesse e o obedecesse prontamente. Seria horrível se ela resistisse e, percebendo o que ele estava fazendo, eles acabassem entrando num embate bem ali, num local onde ele claramente estava em desvantagem. No entanto, Pierre sentia que precisava arriscar, mesmo sem ter tido contato com o poder da irmã por anos ele sabia muito bem o que ela era capaz de fazer, por isso o receio.