TIRO-AO-ALVO!
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA | 11.04.2021

Existem poucas pessoas no mundo que podem dizer que são verdadeiramente felizes. Muitos outros estão mais preocupados com os problemas que existem num todo, e que são normais de acontecer; e mesmo que tenham tudo em suas mãos, eles nunca estão satisfeitos. Nada nunca está bom, sempre falta algo. Esse algo, no entanto, pode ser tudo e nada ao mesmo tempo. Acontece que para Fear Höffmeister, naquele presente momento, não havia mais nada que ele pudesse querer.

Andando de mãos dadas com Tessa Höffmeister, ao lado de Renly, seu mentor, além de Virgie, Fear era a pessoa mais sorridente ali dentre todos os outros. Depois de muitos meses sem esboçar qualquer sentimento que fosse, apático, um sorriso estava adornando os lábios do menor; olhando impressionado para o cenário florido e repleto de coisas novas, ele mal podia esperar para aproveitar aquela manhã com as pessoas que ele mais amava. Até mesmo Örjan e sua mulher estavam lá, abraçados um ao outro, se acalentando apenas com um olhar. Para todos eles, até parecia que os genes mutagênicos não existiam. Que nada, nem sequer um sofrimento passado havia acontecido. Era como se eles fossem pessoas normais como qualquer outra. Tudo o que eles queriam, era aproveitar a presença um dos outros, e para Fear, quem sabe, aproveitar para aprontar alguma coisa.

Eles estavam presentes para o discurso público do presidente dos Estados Unidos da América - Ezekiel Oesterlen. É claro que eles não deixariam algo assim passar batido; era a primeira vez de Fear em meio a sociedade local, algo que ele nunca havia sido permitido à ele antes. Não preciso nem falar que o mais novo estava muito ansioso para saber como seria; ele queria usufruir da melhor forma possível toda aquela exceção como se fosse a última.

Depois de andar bastante, os olhos do menor se arrastavam pelo horizonte quando pousaram sob uma das atrações que ali haviam. Destoando entre os mais novos, Fear saiu correndo com uma jaqueta muito maior do que ele e uma peita rasurada, onde ao contrário de "Make America Great Again" jazia "Make America Porn Great Again", sendo que ambos ele havia recebido de ninguém mais, ninguém menos, do que Renly.

- Eu quero tentar! - disse Fear, sendo acompanhado pelo mais alto, subindo em um desnível que o permitia enxergar os alvos que ali estavam: - Três tentativas, por favor - ele pediu ao homem que estava responsável pelo tiro-ao-alvo.

Por alguma razão cujo Fear sequer prestou atenção, a maioria das pessoas que estava ali para atirar saía frustrada. O menor estava afoito demais para perceber; mas Renly não. Enquanto o homem dava a arma com os projéteis na mão de Fear, o mentor ergueu uma das sobrancelhas, encarando bem a cara mal lavada dele. Havia um sorriso sínico em seu rosto que Renly não engolia.

- Ei, Fear. Quer mesmo tentar nesse? Parece que a maioria das pessoas aqui teve um baita azar - ele disse, enquanto desprendia seus olhos do semblante soberbo do homem. Aliás, o cara era muito peludo e mordiscava algo entre os dentes; um claro estereótipo de cara tosco e arrogante - do tipo que Renly detestava.

- Claro que tenho! Não posso fazer nada se eles são azarados. Se tem algo que esses alvos ainda não viram, é a minha mira mortal - Fear retrucou, colocando-os na mira enquanto fechava um dos olhos.

- Mira mortal, hn? - Renly riu, apoiando-se com os braços na bancada: - Essa eu pago pra ver.

E não é que Fear tinha razão? Ele realmente era bom. Logo nos primeiros tiros, ele acertou os alvos em cheio, fazendo-os tombar um atrás do outro. Imitando um ávido atirador, como se tivesse acabado de voltar do exército americano, Fear ficou se achando enquanto recebia alguns assovios de pessoas que estavam por perto; como se ele houvesse acabado de voltar de um confronto na Síria. Passando o anular sob o nariz, ele o franziu e soltou um sorriso largo para eles.

- Hf! Eu não disse? Look and learn - ele falou, posicionando-se novamente para derrubar mais três alvos, e depois deles só faltaria mais um par. Com a mesma precisão de antes, Fear repousou o dedo e acionou o vácuo da arma; três tiros, três acertos.

Conforme Fear ia se dando bem, mais pessoas se aproximavam. Muitas delas haviam acabado de perder bem antes dele. Não havia nada melhor do que aquilo. Agora, Fear só precisaria derrubar os últimos alvos. Olhando para Renly, por um momento, o mais novo sentiu que algo estava errado - ao invés de olhar para ele, seu mentor não tirava os olhos do homem peludo. "O que está havendo?" ele disse na própria cabeça, antes desse mesmo cara cuspir para o lado e murmurar com uma voz rouca de fumante:

- Vai demorar muito aí? Tem mais gente querendo tentar a sorte, moleque!

"Eu não preciso de sorte..." Fear repetiu, e deixando o ar sair todo pelo nariz, ele encostou o rosto no braço que possuía a pistola em mãos. Vislumbrando seu alvo, o mais novo se concentrava para que não houvesse quaisquer erros. Ele estava pronto para disparar, quando a mão de Renly agarrou o corpo da arma e a forçou para baixo.

- Não atira, antes eu vou bater um dois com esse cara, vai ser rápido - ele disse, e Fear não entendeu nada.

- Como assim? Ei, espera! - Fear surrupiou, mas Renly já havia pulado a única superfície que os afastava dos alvos, e do homem cheio de pelos. Puxando esse mesmo cara com a mão apertada em sua nuca, Fear apenas fez como todas as demais pessoas e acompanhou ele arrastá-lo para o lado de trás com um punho cerrado.

A verdade é que, a maioria havia perdido ali. Não importasse o que Renly tinha para falar ou fazer com ele, ninguém ia interferir. Tão logo o mentor desapareceu com o homem, e o mesmo voltou duro, pálido, como se ele tivesse sido ameaçado pelo próprio diabo. Antes mesmo que Fear pudesse falar alguma coisa, ele viu esse mesmo homem retirar um enclave de trás dos alvos sorrateiramente, então tudo que pôde sair da boca do mais novo foi: - Mas que filha da p...

Um olhar pesado de Renly foi o suficiente para que Fear sequer terminasse aquele palavrão.

Bom, aparentemente, aquele cara estava roubando e, sorte dele que foi o Renly quem resolveu a situação. Se ao contrário dele, Örjan estivesse ali, as coisas teriam sido um pouco piores enfim. Todos estavam esperando pelo tiro fatal de Fear, que culminaria no primeiro êxito daquela manhã no tiro-ao-alvo. Um engate; um acerto. As pessoas gritaram atrás do menor, dando tapas e mexendo em suas madeixas. Alguns até o ergueram por um momento!

Eles estavam claramente satisfatórios e muito putos ao mesmo tempo.

A contra-gosto, o homem revirou os olhos antes de apontar com o rosto os possíveis bônus que Fear podia pegar. Bom, a escolha foi bastante óbvia.


- Renly, sinceramente! Que merda é essa? - Tessa disse, ao ver Fear se aproximar, todo sorridente, ao lado de seu mentor, Renly.

- Não olha pra mim. Eu não tenho nada a ver com isso - ele disse, já desviando do olhar de Tessa, empurrando Fear para ela e contornando ambos.

- Você não vê? É uma máscara do ESTRIPADOR! Assim vou poder revezar com a minha de monstro! - Fear falou ao tropeçar para frente depois de ter sido empurrado, rindo, abaixando a máscara no rosto e grunhindo perto dela, recebendo enfim, um soco moderado no ombro: - Ei!

- Se você aprontar com essa máscara, eu juro que te mato, entendido?! - ela ameaçou. Tessa sabia ser bastante convincente quando queria.

- Tá... Tá... Entendido.

MISSÃO FIXA::

SORRY, NOT SORRY
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA | 11.04.2021

Para Fear Höffmeister só havia uma coisa que faria aquela manhã ainda melhor: vencer de novo em mais uma das atrações que haviam ali - e quem sabe, de quebra, conquistar uma bonificação ainda mais legal do que aquela máscara de estripador que ele estava usando. Depois de pedir mais alguns dólares para Tessa, dessa vez, ele foi sozinho atrás de algo no que gastar.

Haviam várias opções, uma melhor do que a outra, mas estavam todos cheios de gente. Fear queria se entreter, e não mofar atrás de várias cabeças enquanto esperava sua vez. Enquanto andava e vasculhava os arredores com os olhos, o mais novo logo encontrou algo que ele sempre quis tentar: competição de cuspe! Fear não era de se gabar, mas ele era ótimo nisso - só não queira saber porquê. Esboçando um longo sorriso, o menor ergueu a máscara e logo rumou até o púlpito onde haviam, fora ele, apenas mais três guris para rivalizar.

- Quanto custa para concorrer? - ele disse, estendendo algumas poucas moedas: - É o suficiente?

O homem com ele falava era velho, e demorava tanto para contar as moedas quanto para falar. Lentamente, ele foi separando uma por uma com seus dedos finos e trêmulos, oscilando o olhar entre o rosto já impaciente de Fear, e os dólares sem sua mão. Sério, primeiro ele quase caiu em uma trapaça, agora isso? Olhando por esse lado, ele não estava com tanta sorte assim. Quando o homem terminou de contar, tardou até mesmo para sorrir para ele, apontando para onde Fear deveria ficar - lado a lado - com os demais rapazes que ali estavam.

Esticando o rosto para ver melhor os demais concorrentes, todos pareciam como ele: verdadeiros diabinhos. Entretanto, um deles destoava; ele era moreno, tinha um semblante agradável como o de alguém que dificilmente se metia em alguma confusão. "O que alguém como ele está fazendo aqui?" murmurou em sua própria cabeça, afinal.

Ele não fazia o tipo que sabia escarrar, ou cuspir, pelo menos não como Fear.

Quando ele menos esperou, esse mesmo rapaz o encarou. Primeiro, ele sorriu. Depois, fez uma faca em um gesto com o anular e passou pela própria garganta. "Beleza, agora faz todo sentido".

- Estão prontos?! - disse o velho, surgindo na frente deles enquanto afastava os braços, fazendo com que as pessoas que estavam ao redor batessem palmas: - Primeiramente, desejo sorte a todos! Como podem ver, existe uma demarcação à frente de vocês que demonstrarão claramente quantos metros seu cuspe alcançou. Ao lado de vocês, tem apenas um copo de água que poderá ser usado para umedecer a garganta! - ele prosseguiu, se afastando em passos lentos - Serão apenas três rodadas! A melhor cusparada receberá como bonificação.... - o homem tosse, parado por um momento - ...Onde eu parei? Oh, sim! Aquele que vencer levará consigo um passe único e intransferível que dá acesso à todas as atrações!

- Esse passe já é meu! - o outro disse, ao lado, desferindo um olhar mortal contra Fear.

Aquilo havia se tornado pessoal. Franzindo o cenho, Fear ia levar aquele passe com ele custasse o que fosse; arranhando a garganta, ele esperou apenas um gesto do velho: - Preparem-se! Da esquerda para a direita, um de cada vez, irá realizar sua cusparada! - ele disse, e logo após, sinalizou o começo da primeira rodada.

Um atrás do outro, eles foram cuspindo o mais longe que fosse possível. Era algo nojento? Era. Mas nada tão desprezível que não valesse um passe para todas as atrações naquele local! Os primeiros cuspes não foram muito longes, mal alcançando a marcação de 38cm, sendo que o de Fear, contudo, foi arremessado até 69cm. Ele havia ido bem, mas não melhor do que seu rival - que foi capaz de cuspir ao longo de quase 84cm. "O que esse cara tem nos pulmões?" ele reclamou. Na rodada conseguinte, os resultados foram respectivamente: 40, 78 e 96cm. Todos superaram suas marcações, mas o que mais irritava Fear era que mais uma vez ele havia ficado para trás.

TOTAL DE PONTOS:

• Sam - 98
  
• Adam - 80
  
• Fear Øst. Höffmeister - 147
  
• Jackson - 180
  

O pior era que nem havia como passar a perna naquele cara sem ficar muito óbvio; bebendo a água que estava ali para ele, Fear molhou bem a garganta antes da terceira e última rodada. Soltando os braços, ele se concentrava no que deveria ser o maior e melhor cuspe que ele já tivera feito em toda a sua existência! Assim que o velho sinalizou, ele juntou a saliva na boca, e escarrou a cusparada mais longínqua de todas: o percurso dela foi perfeito e retilíneo. Conforme ela avançava, a sensação de que talvez ele pudesse vencer crescia em seu peito. O cuspe parou em exatamente 1m. Já era, não tinha como bater aquele alcance... Ou tinha? Fear já podia sentir o gosto de ser consagrado o melhor cuspidor de todos os EUA quando foi superado; por mais impossível que pareça, seu rival cumpriu a marcação de 1m e 22cm.

Não tinha o que fazer, ele havia perdido. Zombando de sua cara com escárnio, o moreno fez questão de passar bem na frente dele quando seu nome foi proferido pelo velho; que azar: - E o vencedor, com o total de 302 pontos acumulados, é Jackson! - ele bradou.

Acontece, que aquilo não ia ficar assim. Não levem a mal, Fear sempre foi um ótimo rapaz, mas mesmo assim, ele era muito novo - então sensações como derrota acabavam sendo apreendidos com muita frustração. A menos que a individualidade de Jackson fosse cuspir, ele continuava sendo uma pessoa normal. E isso era mais do que suficiente para que Fear engatasse em um furto levemente qualificado.

Assim que o amontoado de pessoas dispersou e, com eles, Jackson, o nosso querido capetinha o acompanhou às escuras. Passando desapercebido, sua intenção era tomar do moreno aquilo que deveria ter sido seu: o passe. O rapaz o havia colocado de qualquer jeito no bolso de trás, deixando-o claramente à mostra. Em defesa de Fear, bom, ele estava quase que implorando para ser roubado. O mais novo desviou de uma pessoa ou outra, sem perdê-lo na sua área de visão; ele se aproximou furtivamente, e assim que viu um deslize de Jackson, meteu o pé entre as pernas do moreno e o fez cair de cara no concreto. A queda foi, no mínimo dolorosa, mas serviu perfeitamente para que Fear enfiasse a mão no passe e saísse correndo por cima do corpo do rapaz.

Simples e rápido, nós temos que concordar. Sem olhar para trás, Fear prosseguiu até o ponto que jamais poderia ser visto novamente seja por Jackson, seja por qualquer outra pessoa que tivesse presenciado o acontecido. A dor de uns, acabou sendo o refresco de outros.

MISSÃO FIXA::