A tarde estava tranquila, não havia nada muito fora do comum além da movimentação de muitas crianças e adultos pela praça. Em um dos bancos que conseguiu comportar eu e os meninos, ficamos trocando algumas ideias, planos do que fazer durante o dia, pois por mais que houvesse tantas opções, se for parar para pensar não eram tantas assim. Mesmo durante minutos de conversa, ninguém entrava em um consenso, até que levantei o dedo sugerindo algo que pudesse nos tirar do tédio. - Olha gente, quando estávamos vindo para cá consegui visualizar algumas barracas com brincadeiras, e bom, uma delas era de tiro ao alvo e eu gosto bastante, embora minha mira não seja das melhores. - Argumentei enquanto esperava que algum deles sugerisse algo melhor, mas eles se olharam e concordaram que não havia nada tão diferente para fazer, portanto seguimos caminhando em direção ao local.

Durante o trajeto conseguimos visualizar algumas barracas de comida, uma delas em especial me chamou maior atenção, o calor estava me matando e precisava de algo bem gelado para me refrescar. - Garotos, vou pegar um sorvete ali, sei que o Bash é uma máquina particular, mas é recomendável a gente se enturmar com o pessoal. - Pronunciei, me referindo aos humanos em específico, pois de qualquer modo não podíamos ficar demonstrando nossas habilidades em público, ainda mais sabendo pela forma preconceituosa que eles nos tratavam. - Olá, poderia me ver uma casquinha de creme? - Solicitei com um sorriso simpático no rosto. E bom, admito que sorvete é a sobremesa que mais gosto, então sempre que dava eu pedia pra Sebastian produzir, não que eu explorasse ele dessa forma, mas eu tenho um certo vício em doce.

Após realizar o pagamento me direcionei ao nosso destino final, passando por uma barraquinha que vendia cupons para serem utilizados nos diversos jogos disponíveis na feira, haviam várias dessa, pois muitas crianças e os próprios adultos enfrentavam as filas para ficarem com cupons de sobra, pois como todos sabem, ninguém joga só uma vez, normalmente aproveitam umas duas ou três no mesmo brinquedo. Durante o caminho fomos conversando sobre algumas situações do cotidiano, como falar das aulas ou do meu trabalho. - Vão querer um pouquinho? - Dei uma lambida no sorvete enquanto olhava para os dois oferecendo aquela oitava maravilha do mundo, permitindo que eles saboreassem o gostinho adocicado do creme. A fila no tiro ao alvo não estava grande, isso me fez me sentir menos angustiado por ter que esperar, não que eu fosse impaciente, mas estava animado para ver como eu estava no gatilho. E bom, não tem como eu negar minhas origens, como mercenário eu utilizava meus dedos como pistolas, então tinha certa habilidade em atirar, mesmo que fosse com disparos de água que perfuravam os outros com a finalidade de executá-los, mas enfim, melhor não ficar com esse tipo de pensamento, vai que um telepata espertinho lê o que não deve e me entrega. - Segura para mim? Quero ir primeiro. - Alertei entregando a casquinha para um dos dois que estivesse disponível, pegando a arma em mãos para mirar nos alvos.

A quantidade de cupons para cada um eram dois, então teríamos no total seis tentativas para receber algum prêmio. - Torçam por mim. - Afirmei abrindo um sorriso simpático enquanto fechava um dos olhos para melhorar a precisão, afinal estava com a mira em um dos olhos apontando precisamente em direção do que eu deveria derrubar. Pow, fez o barulho ao atingir, o que me fez se questionar as razões dele não ter caído. - Ué, mas eu acertei. - Falei olhando desconfiado para os outros meninos, permitindo que eles também fizessem as suas tentativas.  - Boa sorte aos outros e mais sorte na próxima vez rapazinho. - Alertou o atendente, observando a vez de Sebastian e de Arthur, que assim como eu haviam acertado seus alvos e eles não caíram.

- Que pena garotos, querem tentar mais uma vez? - O homem sugeriu, mas neguei com a cabeça puxando os meninos pela mão, um em cada lado. - Isso não foi estranho? Todos acertamos e nenhum alvo foi derrubado, vou me certificar de que não tem nada de errado. - Argumentei com os rapazes, retornando ao brinquedo para chamar a atenção do homem. - Você poderia levantar o primeiro alvo da direita da segunda prateleira de baixo para cima? - Afirmei arqueando uma das sobrancelhas para que o homem fizesse, mas ele se recusou, questionando diversas vezes o porquê daquilo. - Qual o sentido disso? Vocês não acertaram o alvo, então não receberam prêmios. - E continuou, tentando se justificar, mas eu tinha quase certeza que aqueles alvos estavam colados na tábua que sustentava eles. - Se você levantar aquele alvo do lugar não teremos problema. - Ameacei, esboçando um sorriso falso no rosto, esperando que Arthur e Sebastian fizessem o mesmo, expressassem a revolta quanto a farsa daquele brinquedo. - Ta bom, ta bom, aqui, olha. - O homem disse tentando erguer, mas obviamente não saiu do lugar, afirmando a conclusão que eu e os demais havíamos discutido anteriormente. - Você tinha que ter vergonha, várias crianças vem aí para brincar e ganhar um premiozinho para levar para casa. E cara, eu não ligo de fazer isso comigo, mas coloca a mão na consciência, não é legal trapacear com esses serezinhos inocentes. - Apontei ao meu redor, persuadindo o homem de tomar uma atitude quanto ao erro que cometia. - Você tem razão... toma, levem esse ursinho de pelúcia como pedido de desculpas, vou consertar isso. - Ele se expressou, envergonhado com as próprias atitudes, mas concordando que estava errado. Bom, como eu não sou nenhum bobo, peguei o urso e entreguei para Sebastian, acho que ele gostaria mais de ter em coleção do que eu ou o Arthur. - Cuida dele Bash. - Dei uma piscadela, saindo dali com os meninos, mas olhando para trás com um sorriso no rosto, pois o atendente resolveu distribuir os prêmios sem cobrar nada das crianças.