Como festas se tornam insuportáveis quando atingimos certa idade, mas sinceramente, tenho o que? 24 anos nas costas e um comportamento de velho de 70, fico rabugento e resmungão, ainda mais quando um bando de adolescentes resolve comemorar um aniversário banhado de gritaria e drogas escondidas como se eu e os demais funcionários não percebessem. Falta isso aqui para eu surtar. Demonstrei simbolizando um tamanho pequeno com os dedos para o outro garçom.

Correria vai, correria vem, quando conseguimos servir todos os clientes, possibilitando a ida deles embora, pude finalmente me encostar no balcão, quase baixando a cabeça sobre a superfície, procurando então descansar pelo menos por alguns segundos. O olhar do rapaz que trabalhava comigo movimentando a cabeça para sinalizar a entrada de mais uma pessoa na lanchonete me fez sentir um aperto no peito, daqueles que não é bom sentir. Deixa, eu atendo, pode ficar tranquilo. Pronunciei ao outro me aproximando da mesa que o rapaz se encontrava.

O que manda hoje chefe? Perguntei com uma caneta nas mãos e um caderninho de anotações, talvez o pedido nem fosse tão grande assim, e bom, quanto antes ele solicitar o que vai comer ou beber, mais cedo vou embora tomar um banho e descansar.

Mas que diabos é o de sempre? Ou eu estava muito cansado e não lembrava ou eu nunca havia atendido aquele rapaz. Pode ser mais específico senhor? Eu acho que é a primeira vez que te atendo, sou novo no país. Afirmei arqueando uma das sobrancelhas encarando o rapaz para tentar recordar do seu rosto, mas infelizmente não conseguia. Vou pedir ali, só um minuto. Recuei alguns passos para ir próximo da abertura para a cozinha, solicitando o que havia sido exigido pelo cliente.

Ei, capricha no que ele pediu, é o último cliente, mas mesmo assim precisa ter o mesmo atendimento dos outros. Reafirmei aos demais forçando um sorriso que não era dos mais sinceros possíveis. É, minha cabeça estava cheia de coisas, principalmente de pensamentos de, vai come logo rapaz, quero ir para casa, mas ele era bonitinho e talvez isso tenha impedido que eu fosse meio grosseiro. Porra, ser gado é foda.

Ao ser finalizado o pedido, levei até a mesa com um sorriso de canto, ajeitando tudo bonitinho sobre a superfície da mesa. Espero que goste, falei para eles capricharem. Afirmei recuando alguns passos para dar espaço do mesmo saborear o que foi entregue.

Estava tão na cara que eu fiquei secando os pães de queijo? Que vergonha meu pai. Balancei a cabeça ligeiramente de forma negativa na tentativa falha de não se seduzir pelo lanchinho de fim de noite. Olha, provavelmente meu chefe me mataria por fazer isso, mas deve ser chato comer sozinho. Me da um minuto. Me afastei com passos acelerados para deixar meia-portas abertas, assim ninguém entraria e sinalizaria que estava fechado.

Rapaziada deixa que termino o fechamento, podem ir. Pronunciei deixando o avental sobre o balcão e dispensando os outros funcionários, mas não que eu tivesse todo esse poder para isso, só tinha um jeito um pouquinho mandão, mas bem pouquinho mesmo e afinal de contas... eu era amigo de todo mundo ali, eu acho.

Ao me direcionar novamente na mesa do rapazinho que se alimentava, que provavelmente deveria ter a minha idade me sentei na cadeira da forma contrária a comum, ficando com os braços sobre a parte que normalmente estaria as costas, não sei se deu pra ficar claro, mas espero que a imaginação permita isso. Então, você é daqui mesmo? Perguntei dando uma mordida em um dos pães de queijo que ele havia oferecido, acenando para os demais colaboradores que saíam para ir embora, deixando as chaves sobre a mesa em que estávamos.

No silêncio da noite apenas duas vozes se pronunciavam, eu e daquele garoto, Sebastian, nome bonito, não? O prazer é meu, sou Tiberius. Limpei a mão rapidamente na região do peito da camisa para não sujar a dele com os vestígios de pão de queijo. Eu moro tem poucos meses aqui, acho que cheguei no meio de janeiro, mas já conheço relativamente bem a cidade. Coloquei então uma mão no queixo tentando refletir se eu estava calculando corretamente o tempo que estava no país.

O mais engraçado é que as culturas são de certa forma diferentes, mas como bom adaptador consegui compreender como as coisas funcionavam por ali. Então quer dizer que você gosta de Sailor Moon? Indiquei com a cabeça ao perceber a estampa que havia em seu moletom. E bom, se meu gaydar estiver funcionando corretamente ele com certeza gosta da fruta. Mora muito longe? Questionei, uma vez que tinha que fechar as portas em breve ou poderíamos ser assaltados.

A estampa da blusa era bem bonitinha, assim como quem a vestia. Se eu te dizer que não assisti ainda você me julgaria muito? Brinquei finalmente dando um sorriso sincero, foi estranho e divertido ao mesmo tempo perguntar sobre aquele desenho, minhas perguntas privadas estavam sendo respondidas aos poucos. Instituto? Legal, o que você... Olhei a movimentação estranha do garoto para querer ir embora. Faz por lá? Completei tentando compreender o porque ele começou a se comportar tão estranho, talvez por ser novo por ali aquele lugar fosse algo ruim e eu não sabia.

Garotão espera aí, eu te levo pra casa. Afirmei me levantando rapidamente para puxa-lo pelo braço antes que se molhasse na chuva que caía, tenho que admitir que odeio instinto protetor as vezes. Tem um capacete sobrando aqui e roupas de chuva, você não pega um resfriado e chega seguro em casa... está tarde, vamos, eu juro que não vou te matar e vender seus órgãos. Pronunciei o soltando, enquanto ia pra dentro buscar as coisas, torcendo para que ele não fosse embora.

E foi então que finalmente as portas estavam trancadas e agora só precisávamos ir embora, talvez eu pudesse até rever aquele rapazinho na lanchonete de novo outro dia, digo, rapazão, penso no diminutivo porque ele é todo fofinho. Não vou te derrubar da moto, prometo. Dei uma risada baixa enquanto sentia seus braços se envolverem em minha cintura, ouvindo sua respiração aparentemente ofegante com medo que pudesse se machucar.

Quando liguei o motor para partirmos em direção seguindo a orientação de trajeto do outro, soltei um sorriso comigo mesmo, estava interagindo bem com alguém, depois de tanto tempo fazendo coisas que eu deveria me arrepender, mas foram apenas serviços, enfim. Então, o que você faz lá? Gritei enquanto conduzia a moto, mas devido a movimentação e até mesmo a chuva, provavelmente seria difícil dele ouvir.

Alguns quilômetros rodados e finalmente chegamos no dito lugar, Instituto Blackmore, acho que seria interessante pesquisar um pouco sobre o lugar, até porque, deveria haver algum motivo por trás do medo que ele sentia. Segura no meu braço e tenta descer, você não vai cair. Afirmei ao jovem, tentando auxiliar o mesmo na descida. Me empresta seu celular. Solicitei esperando que ele confiasse em mim, até porque, acho que eu não demonstro perigo. Vou deixar meu número aí, qualquer coisa me manda mensagem, podemos conversar melhor qualquer dia. Disse enquanto guardava a roupa e o capacete que ele usava em um espaço reservado a isso atrás do banco.

Liguei o motor novamente, acenei com a cabeça e acelerei o suficiente para ir embora, felizmente minha rede de contatos estava aumentando.